Para muitas das coisas que vou escrever de aqui em diante vai ser importante ter-se conhecimento da constituição do ser humano. Por isso apresento aqui uma breve descrição.
A primeira repartição que se pode fazer é de considerar que o ser humano é constituído por corpo físico, alma e espírito (muitas vezes designado por „mente“). Aí podemos dizer que a alma é a esfera em que o corpo físico e o espírito se encontram e cruzam. Considerando o corpo como a matéria e o escuro e o espírito a luz clara, seguindo a teoria das cores de Goethe, podemos perceber que a alma tenha todas as cores do arco-íris, pois as cores surjem da interacção entre a luz e a escuridão. Uma repartição mais elaborada e complementar é que o ser humano é actualmente constituído por quatro camadas e no futuro serão sete. Para compreendermos isso vou apresentar o que o ser humano tem em comum com os outros reinos da natureza. Temos o nosso corpo físico, constituído pelas substâncias da Natureza. Este corpo é algo que temos em comum com os minerais, as plantas e os animais que também têm um corpo físico. Quando morremos, o nosso corpo físico degrada-se e passa a integrar de novo os cíclos da Natureza. Numa pedra isso não acontece, ela não pode morrer e por sí só mantêm-se sempre igual. As leis e forças da Natureza actuam sobre ela, mas ela está ali pávida e serena e não se começa a degradar de repente devido a uma mudança interna qualquer que tenha ocorrido. Só se degrada por acção de forças externas. Tal como o nosso corpo físico quando morremos. O que é então isso que mantém o nosso corpo físico vivo, e evita que ele se dissolva? Falamos no corpo de forças vitais ou corpo etérico. Nos reinos da Natureza encontramos estas forças vitais em todos os seres vivos, nas plantas e nos animais. É a força que organiza e mantêm os organismos vivos. Já alguma vez se perguntaram o que é a individualidade de uma planta? Eu sim. Fiquei muito confusa com a possibilidade de se tirar estacas de um suposto „indivíduo“ vegetal e ele continuar a crescer e formar outro „indivíduo“ noutro sítio! Isto claramente mostra que não se trata aqui de um „indivíduo“, pois essa palavra vem de „indivisível“. A planta é claramente divisível, não tem portanto um princípio unificador, organizador do seu ser, dentro do seu corpo físico. Como é isso nos animais? Há alguns animais inferiores que também aguentam a divisão e continuam a viver. Mas, na maioria dos animais isso não é o caso, eles constituem uma unidade única, fechada sobre sí. Eles aparentemente têm um mundo interior, separado do mundo exterior. Eles movem-se por inciativa própria e parecem sentir. São portanto „animados“. Isto aponta para o facto de os animais terem, para além do corpo físico e éterico, ainda uma alma com capacidade sentiente. Na Antroposofia este corpo sentiente é designado por corpo astral. O ser humano também tem essa capacidade de sentir e de se mexer, partilha portanto esta camada de constituição (corpo astral) com o animal. Agora a parte mais difícil é a questão: e o que distingue o Homem do animal? Os misantrópicos não querem ver que o ser humano tem capacidades superiores aos animais. Antes pelo contrário, argumentam que o Homem é pior que os animais, pois pode ser mau e cruel e estúpido, e tudo o mais que a gente sabe... enquanto que os animais seguem um instinto sábio que lhes permite a sua sobrevivência em perfeita harmonia com a Natureza. Isso é verdade, mas vejam que os animais são limitados, muito mais limitados do que nós seres humanos. Um gato só se pode comportar mais ou menos de uma certa maneira, um castor faz aqueles ninhos elaborados, mas nunca lhe ocorreu construir outra coisa. Então nós seres humanos temos a capacidade de tomarmos consciência do facto de que existimos, podemos reflectir sobre nós próprios e podemos tomar decisões. Temos a consciência que nos torna capazes de tomarmos o nosso próprio desenvolvimento em mãos. Um gato ou um castor já é perfeito, não se pode tornar mais gato ou mais castor. Nós humanos, no entanto, podemos tornar-nos cada vez mais humanos. De imperfeitos em tudo, podemo-nos tornar universalistas! Podemos apanhar ratos e podemos construir açudes! Temos dentro de nós um princípio que nos permite distanciarmo-nos de nós próprios, da nossa realidade imediata, e que permite analizarmos a nossa situação e de acordo com valores morais tomar decisões. Somos menos 'perfeitos' e 'prontos' que os animais, mas o nosso Eu dá-nos um enorme potencial de acção e desenvolvimento. O „Eu“ é então o nosso espírito, individual e unicamente humano. Se repararem bem, são as teorias de darwinismo materialista que recusam ver no Homem mais do que um mero animal. E há aí um interesse escondido, em não crermos nas nossas capacidades criativas e no nosso potêncial para a liberdade.
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Ambra Sedlmayr é formadora de adultos, capacitando e empoderando pessoas a viverem os seus sonhos ao contribuirem algo com significado para o mundo. Histórico
September 2022
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