Está aqui um extrato de uma entrevista entre o padre e líder espiritual Doutor Michael Beckwith (MB) e Kute Blackson (KB) sobre entrega.
MB: „Entrega“ significa que nos entregamos ao próximo estádio da nossa evolução. Há um potencial infinito em nós que quer vir a desabrochar. Quando entregamos, permitimos que algo que já existe em nós possa desabrochar. No paradigma teológico antigo as pessoas diziam „eu entrego-me a Deus“. E havia a ideia que Deus estava lá fora, que Deus fez o Homem à sua imagem, mas como algo separado dele. E então iamos entregar a nossa vontade e submeter-nos à vontade de Deus. Mas a humanidade evoluiu, do testamento antigo em que Deus era percepcionado como estando fora do ser humano, para o novo testamento, em que a humanidade é divina. Não nos entregamos a um Deus exterior, mas nós temos qualidades e atributos do Espírito. No passado Deus mandava, era capricioso, e nós eramos como crianças que ele geria. Hoje compreendemos que nós somos a Luz do mundo. Por isso hoje a entrega é entregarmos-nos ao potencial que existe em nós e permitir que ele se exprima através de nós. Podemos dizer um grande „sim“ a Deus em nós!... A vontade de Deus tem sempre a haver com uma expressão maior da Vida. Se eu quero a vontade de Deus, quero uma maior expressão da Vida. E assim, o desejo mais profundo do meu coração é idêntico à vontade de Deus. Eu exprimir o meu potencial, a alegria, criatividade, amor, é a vontade de Deus. E é a isso que me vou entregar. KB: Porque é que é tão difícil entregarmos-nos a isso? MB: Temos condicionamentos e zonas de conforto. Preferimos estar numa situação de segurança aparente em que as coisas são mais fixas e estáveis. Quando nos entregamos à nossa própria evolução, o nosso mundo antigo vai desabar. A maneira como vias o mundo pode ter sido causada por dúvidas, medos, inseguranças e criaste um contexto em que pensavas gerir e controlar a tua vida, dentro do contexto destes sentimentos. Ao deixares ir e entregar, não sabes o que irá acontecer. O nosso Ego tem medo da mudança. Mesmo uma mudança positiva - como ainda não conseguimos ver como vai vir a ser, por vezes vai para além do que conseguimos sequer imaginar, e por isso resistimos. Portanto: é o medo. KB: E como superamos este medo, para que ele não nos mine? MB: O medo é uma energia, que resulta de uma perspectiva egoica, que te mantém pequeno, que te mantém num lugar pequeno e que te parece seguro. O medo aparece quando queremos sair da nossa zona de conforto. O ego produz todos estes medos e dúvidas. O medo, ao tomarmos acção, transforma-se. Começa a transformar-se em antecipação, como quando estás numa aventura a descobrir coisas novas. E, se continuas por este caminho da entrega, começas a ter intuições sobre o teu caminho. Então o medo transforma-se em entusiasmo. A palavra entusiasmo vem do Grego: en theos, que significa: estar em Deus. O medo nunca desaparece, mas pode ser transmutado através de acções, tornando-se numa outra forma de energia. KB: Que acção podemos tomar? MB: Estás em integridade contigo e com a tua alma. Estás mansinho que nem uma pomba. E o universo vai responder às tuas perguntas. Se perguntas sinceramente: o que está a tentar emergir através de mim das profundezas do meu ser? Qual o meu próximo passo? O que posso contribuir? E ouves em silêncio com os teus ouvidos interiores. E começas a ser guiado por uma linguagem que tu consegues perceber, como intuição, saber imediato, etc. E assim transfromamos inércia em acção com momento. KB: E podes falar o quanto as nossas possibilidades estão sob nosso poder de desabrochar e em que medida o carma nos pode limitar? Porque muitas pessoas quando não conseguem sair de uma certa siuação difícil acham que deve ser o carma deles e que é algo que têm que aceitar. MB: Sim, isto é uma superstição bastante comum. Acho que surgiu na Índia com o sistema das castas sociais. Temos que compreender que o carma apenas determina pontos de partida, não os resultados. Os resultados são determinados pelo teu carácter que por sua vez é um resultado da tua atitude. Portanto podes mudar a tua atitude e vais ter resultados diferentes e o teu destino muda. Por vezes as pessoas usam o carma como desculpa para não terem que mudar. Mudar de atitude muda tudo. Se neste instante respiro fundo e sinto gratidão pela capacidade de respirar, há uma mudança imediata nas ondas cerebrais, no sistema imunitário, etc. Se trabalhas consistentemente nas tuas crenças, pensar, sentir, começas a transformar os teus corpos subtis também. E então a tua experiência da vida e o teu destino também mudam. Oportunidades e possibilidades novas começam a aparecer na tua vida. Carl G. Jung dizia que enquanto o nosso inconsciente é inconsciente ele cria coisa a que chamamos destino. Mas quando se começa a tornar consciente, começamos a ter opções. Quando começamos a fazer trabalho interior, coisas incoscientes começam a emergir no nosso consciente, e por isso deixa de nos determinar. Começa a ser transmutado pela nossa consciência e intenção.
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Ambra Sedlmayr é formadora de adultos, capacitando e empoderando pessoas a viverem os seus sonhos ao contribuirem algo com significado para o mundo. Histórico
September 2022
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