Estória de Frank Stocktorn e Maurice Sendak No meio da floresta, perto da povoação de Orn, vivia o homem das abelhas. Ele vivia ao pé do caminho numa cabana com telhado de palha. A cabana estava rodeada de abelhas que entravam e saíam por buracos na parede de terra e palha. O ar estava carregado com o zumbido das abelhas. Toda a cabana era como que uma colmeia gigante. O homem das abelhas alimentava-se sobretudo de mel e de frutos silvestres. Duas vezes por ano passava por aquele caminho um aprendiz de feiticeiro. Quando ele passava pela cabana, costumava espreitar por uma janela embaciada de tão velha e via lá dentro o homem das abelhas, um senhor baixinho e redondo, a comer à colherada uma sopa de mel. Uma vez ao passar pela cabana e encontrar novamente o homem das abelhas assim sentado à mesa a comer mel, o aprendiz de feiticeiro bateu à porta e interpelou-o, dizendo-lhe: „Sempre que eu passo por este caminho encontro você aqui sózinho sentado na cabana a comer mel. Eu acho que você foi enfeitiçado e antes de ser o homem das abelhas foi outra coisa. Você vá à procura daquilo que foi antes de ser enfeiticado. E eu, quando terminar a minha formação de feiticeiro, que será em breve, poderei torná-lo de novo naquilo que você foi antes de ter sido enfeitiçado. Faça-se a caminho! Procure quem foi!“ O aprendiz de feiticeiro seguiu caminho e o homem das abelhas ficou intrigado com aquela fala e chegou à conclusão que o aprendiz de feiticeiro deveria ter razão. Que sina aquela, sempre sozinho no mato só na companhia das abelhas? Parecia mesmo um feitiço! Então ele preparou um enxame de abelhas numa cesta que atou às costas, feito mochila, de modo a ter sempre abelhas e mel consigo, e iniciou a sua jornada à procura de quem poderá ter sido. No primeiro dia, depois do almoço de mel, deitou-se a dormir a cesta no meio de uns arbustos. Ao acordar reparou que se encontrava na margem de uma quinta onde estava a ser celebrado um casamento. Um homem muito fino e uma belíssima noiva desciam as escadas de um palacete. O homem das abelhas aproximou-se pensando: „Quiçá, terei sido um homem jovem tão bonito e rico quanto este, antes de ser enfeitiçado?“ Foi-se aproximando mas sempre escondido por entre os arbustos para não incomodar os convidados. A um certo momento, no entanto, descuidou-se e o casal de noivos passou mesmo à sua frente. O noivo, ao ver no homem das abelhas esguedelhado e pobre um intruso na sua festa, deu-lhe um pontapé para o correr dali para fora. Ao continuar a sua caminhada o homem das abelhas pensou „Não fui de certeza um jovem tão vaidoso e mau como aquele noivo.“ Passou por muitas aldeias e florestas mas não encontrou nada com que ele resoasse como sendo algo que ele pudesse ter sido. Ouviu falar de uma caverna, perto de umas montanhas, com dragões horríveis e pensou para si: „Não posso excluir a possibilidade de ter sido um daqueles dragões horríveis, tenho que ir lá ver e verificar.“ Ao chegar perto da caverna, encontrou um jovem letárgico que tinha umas grandes olheiras de sono e que se deitava sempre que possível, tendo um andar descaído e mole. O homem das abelhas perguntou-lhe porque é que ele queria ir à caverna dos dragões. O jovem letárgico respondeu que lhe tinham recomendado ir apanhar um susto à caverna, para ver se acordava e saía de vez da letargia. Continuaram juntos até à entrada da caverna, onde foram recebidos por um anão de pele acastanhada e com um grande nariz. O anão quis saber o que os caminheiros desejavam e rapidamente os encaminhou: Pôs o jovem letárgico numa das câmaras da caverna com um dragão que dormia há mil anos, enquanto o homem das abelhas estava à vontade para ir de câmara em câmara na caverna para ver os dragões e verificar se poderá ter sido algum deles. Ao chegar a uma das câmaras na caverna, o homem das abelhas encontrou-a vazia. Mas, de repente entrou um dragão por um buraco no tecto. Era um dragão grande que metia medo, com grandes garras e dentes que pareciam serras. Nas suas garras o dragão trazia um bébé que tinha acabado de roubar e que ia ser a sua refeição. O homem das abelhas quis imediatamente salvar o bébé. Pegou na colmeia que trazia às costas e atirou-a com toda a força contra a cabeça do dragão. O dragão deixou cair o bébé ao tentar afastar as abelhas que o picavam em todo o lado. O homem das abelhas deu um salto para agarrar o bébé e fugiu com ele a correr para a entrada da caverna. Perto da entrada da caverna o homem das abelhas encontrou o jovem letárgico a correr atrás do anão para lhe dar pontapés. Mostrou-se que o dragão que estava a dormir há mil anos no seu sono profundo, teve um ligeiro tremer de uma pálpebra, e o jovem letárgico pensou que o dragão estava acordado e que tinha sido enganado pelo anão. Ganhou um tal susto que ficou muito acordado e quis imediamente vingar-se do anão. O homem das abelhas agradeceu ao anão e decidiu seguir caminho para procurar os pais do bébé para lhes devolver a criança. Não tardou muito, ao passar numa aldeia o homem das abelhas encontrou uma senhora à porta de casa a pendurar a roupa, a chorar e a lamentar-se. Percebeou-se rapidamente que ela era a mãe do bébé que tinha sido roubado pelo dragão. A senhora ficou extremamente grata ao homem das abelhas e convidou-o a passar aquela noite em sua casa. O homem das abelhas contou-lhe a sua busca de querer encontrar quem foi, e concluiu que sentia uma tal atracção pelo bébé, que achava que antes de ter sido o homem das abelhas deverá ter sido um bébé assim. A mãe do bébé estava tão grata que prontamente se ofereceu a criá-lo juntamente com o seu filho, logo após a sua transformação pelo feiticeiro. E assim aconteceu. O aprendiz de feiticeiro, que estava agora um feiticeiro formado, foi chamado e transformou o homem das abelhas num bébé, que foi criado como se fosse um irmão do bébé que ele tinha salvo. Muitos anos passaram… O então aprendiz de feiticeiro era agora um velho mestre e um dia aconteceu que ele passou mais uma vez por aquele caminho na floresta junto a Orn. Ao avistar a cabana do homem das abelhas lembrou-se de toda esta história e questionou-se sobre o que terá acontecido com aquele bébé no qual ele tinha transformado o homem das abelhas. Aproximou-se da cabana e espreitou pela janela. E… avistou ali o homem das abelhas sentado à mesa a comer um prato de sopa de mel. - Pois é. Quando não se faz trabalho de desenvolvimento pessoal, pode se ter oportunidade atrás de oportunidade para se aprender e fazer diferente, mas não vale de nada, pois os velhos padrões criam um futuro igual ao passado... Hoje em dia é mesmo assim: temos que tomar o nosso potencial de desenvlvimento em mãos de forma consciente.
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Ambra Sedlmayr é formadora de adultos, capacitando e empoderando pessoas a viverem os seus sonhos ao contribuirem algo com significado para o mundo. Histórico
September 2022
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